Tecnologia, ESG e Cibersegurança redefinem a competitividade; ignorar a mudança não será mais uma opção.
O ano de 2026 não marcará o fim da transformação em procurement (compras estratégicas) e supply chain (cadeia de suprimentos), mas será lembrado como o início de uma mudança estrutural. O setor entra numa fase em que tecnologia, inovação e cibersegurança deixam de ser temas de agenda e passam a definir, de forma direta, competitividade e continuidade operacional.
A evolução da IA generativa e da automação cognitiva, que até pouco tempo eram vistas como apostas, começa a se consolidar como ferramenta diária na interpretação de contratos, na previsão de demanda e na leitura de riscos. Em 2026 e 2027, essas tecnologias ganham maturidade suficiente para transformar a forma como executivos tomam decisões.
Ao mesmo tempo, o mundo ao redor se torna mais imprevisível. Instabilidade climática, tensões geopolíticas e gargalos logísticos exigem cadeias de suprimentos muito mais ágeis e adaptáveis. Não basta reagir. As empresas precisarão operar com estruturas digitais mais conectadas, apoiadas em digital twins, sensores IoT, plataformas colaborativas e redes de dados que ofereçam leitura contínua da operação. A visibilidade em tempo real, antes tratada como diferencial, passa a ser requisito básico. E a diferença entre organizações que coletam dados e aquelas que realmente extraem inteligência deles se tornará evidente.
Cibersegurança: Do TI ao Tabuleiro de Decisão
A cibersegurança, por sua vez, ganha um espaço inédito. O tema deixa de ser responsabilidade apenas de equipes técnicas e passa a influenciar decisões de negócio, desenho de contratos e seleção de fornecedores. O conceito de zero trust tende a se espalhar rapidamente, moldando integrações, compartilhamento de informações e fluxos críticos da cadeia. Em setores essenciais, como telecom, energia e saúde, a segurança digital será tão decisiva quanto preço ou nível de serviço.
Esse movimento ocorre em paralelo ao aumento da pressão regulatória, da demanda por rastreabilidade e da evolução da agenda ESG, que passa a exigir comprovação de governança e responsabilidade em toda a cadeia.
Nesse contexto, operar com os métodos tradicionais de procurement, focados apenas em savings e negociações pontuais, deixará de fazer sentido. O mercado migra para modelos que priorizam valor total, previsibilidade e inovação contínua com parceiros estratégicos.
É por isso que 2026 representa um divisor de águas. Não é o fim da transformação, mas o momento em que ignorá-la deixará de ser uma opção. As empresas que abraçarem tecnologia e novas formas de operar entrarão em 2027 com vantagem competitiva sólida. As que resistirem enfrentarão um cenário de obsolescência crescente em um mundo onde supply chain e redes digitais já são, na prática, a mesma coisa.

Daniel Hermeto é engenheiro Elétrico pela Universidade Federal de Itajubá, com MBA pela FIA/USP e programas executivos na London Business School, Kellogg School of Management, George Washington University. Ao longo dos últimos 25 anos, atuou em posições “C-Level” na Motorola, Oi, Claro e TIM, liderando Supply Chain Management e Procurement Estratégico.